quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Bodas de brilhante na vida de D. Moacyr Grechi


O bispo que fez história no Acre e na Amazônia está prestes a entregar sua carta de aposentadoria ao Vaticano.

O Bispo Dom Moacyr Grechi completou 75 anos de idade nesta quarta-feira, véspera do dia consagrado a São Sebastião, com uma vida plena de realizações, muita história para contar, e um currículo que desperta a mesma admiração que a sua simpatia emana.

O hoje arcebispo de da Arquidiocese Metropolitana de Porto Velho pode agora se aposentar e, se desejar, escrever uma autobiografia que poderia relatar a vida de um dos religiosos mais admirados deste país.
A aposentadoria é compulsória, como prescreve o Direito Canônico, mas não automática. Ela ainda depende da palavra final do Papa Bento XVI, que pode demorar ainda algum tempo, segundo o próprio Dom Moacir.  Mas a carta de renúncia do cargo de arcebispo da Arquidiocese de Porto Velho (RO), em breve deverá ser enviada à Santa Sé.
Este vascaíno fanático é talvez o único que acredita torcer por um time tricolor – ele se refere ao vermelho da Cruz de Malta estampado no escudo da equipe alvinegra carioca. Dom Moacyr Grechi sofreu dois acidentes automobilísticos graves em 2001 e 2004, mas afirma gozar de boa saúde.

Ele é também torcedor eterno do otimismo, ainda que tenha um aguçado sentido político da realidade brasileira e, em especial, da amazônica.
Não é por acaso. Nascido em Turvo, no Estado de Santa Catarina em 19 de janeiro de 1936, Moacyr Grechi foi ordenado sacerdote em 29 de julho de 1961 e onze anos depois, foi nomeado um dos bispos mais jovens do Brasil, com apenas 36 anos de idade, quando veio para o Acre para dirigir a Diocese de Rio Branco, onde permaneceu por quase três décadas, até ser transferido para Rondônia, em 1998.
Aqui, desenvolveu uma intensa atividade pastoral e religiosa que redundou na Criação das Comunidades Eclesiais de Base (CEBS), corrente progressista da igreja católica que abrigou um grande número de militantes políticos que, no início da década de 1980, fundariam o Partido dos Trabalhadores (PT).

Nesta ala, despontaria no cenário político local, nacional e mundial, a senadora Marina Silva, que teve em Dom Moacyr um grande amigo e um de seus mentores ideológicos, embora a ex-presidenciável milite atualmente no Partido Verde (PV) e tenha se convertido à Igreja Evangélica.
Dom Moacyr ocupou e ainda acumula diversos cargos e funções dentro da hierarquia católica e  também presidiu a CPT – Comissão Pastoral da Terra. Por meio dela, se tornou um profundo conhecedor dos problemas fundiários brasileiros e por sua militância aguerrida em favor dos mais humildes e pela reforma agrária, chegou a receber ameaças de morte em algumas oportunidades.
Foi também companheiro de luta e amigo pessoal de Chico Mendes, assassinado em 22 de dezembro de 1988.

Á época, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, o jornalista Augusto Nunes fez a seguinte pergunta ao então bispo da Diocese de Rio Branco: “Agora, dom Moacir, outros líderes incomodam. Por que eles sobrevivem de alguma forma e o Chico Mendes morreu? Por que ele incomodava especialmente? Como é que era a ação dele na região de [seu] viver? 
Dom Moacir Grechi respondeu: : No primeiro momento o Chico foi uma liderança autêntica que não se deixava corromper, o que não é comum, muitas vezes as lideranças pressionadas podem ceder, por uma razão ou outra. O Chico, como eu disse antes, era uma liderança autêntica. Antes dele, Wilson Pinheiro já foi eliminado [presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia (AC), assassinado na sede do próprio sindicato em 1980], não sei se os senhores se lembram, mas ele também era um sindicalista que incomodava por causa especialmente dos empates [ações coletivas que visam impedir a ação dos peões encarregados da derrubada da mata.
Um grupo de cem a duzentas pessoas dirige-se pacificamente aos acampamentos e convence os peões a abandonar as moto-serra. Eles descobriram um caminho, porque pelo caminho da lei perceberam que não conseguiam nada, pelo caminho do diálogo nada se conseguia. Então eles perceberam que com esse modo do empate - que cercava a área em que ia ser derrubada, e exigia um afastamento dos peões e um compromisso do patrão ou do gerente.
Os proprietários perceberam que ele estava sendo eficaz, estava conseguindo vitórias, então Wilson Pinheiro foi eliminado. E o Chico continuava na mesma linha, só que nesses últimos anos ele tinha amadurecido. Além de lutar pela posse e pela permanência do povo na terra, ele começava a acordar, inclusive nos ajudava a descobrir a importância da mata, da floresta, suas castanheiras, suas seringueiras, como fonte de vida para seu povo que na prática não tinha alternativa”.
O tempo passou e Dom Moacyr Grechi jamais mudou as suas convicções. Recentemente, durante a campanha eleitoral, ele concedeu uma entrevista ao jornal  Folha de São Paulo, em que foi identificado como mentor político de Marina Silva, na qual fez críticas à  ex-aliada.. Para ele, não existia “nenhuma esperança de vitória”.

Segundo Dom Moacyr, faltava nela o perfil de presidente. Mais que perfil, a capacidade de reagir à pressão de todo o gênero. “Ela é muito frágil para agüentar”. Amigos desde 1974, Dom Moacyr disse ainda que Marina tem pouco “jogo de cintura” e sua fragilidade ficou comprovada quando ela dirigiu o Ministério do Meio Ambiente (2003-20008). “Ela vivia em uma angústia constante.”
Ontem pela manhã, em entrevista concedida o jornalista Washington Aquino, da Rádio Difusora Acreana, Dom Moacyr Grechi confirmou que está mesmo prestes a deixar o cargo de arcebispo da Arquidiocese de Porto Velho, mas que “uma vez padre, sempre padre e uma vez bispo, sempre bispo”. 

Ele descartou a possibilidade de retornar ao Acre para morar ou trabalhar, deixando subentendido que voltará para a sua terra natal, Santa Catarina.

Dom Moacyr deverá ser nomeado arcebispo emérito de Porto Velho logo que for substituído na arquidiocese metropolitana rondoniense pelo Para Bento XVI. 

Currículo de Sua Excelência Reverendíssima Dom Moacyr Grechi, OSM
Nascido em Turvo (SC) em 19 de janeiro de 1936
Ordenado sacerdote em 29 de julho de 1961
Eleito Bispo em 17 de julho de 1972
Nomeado Arcebispo de Porto Velho  em 29 de julho de 1998
Tomada de posse como Arcebispo  em 08 de novembro de 1998
Estudos realizados
Ensino fundamental
Araranguá e Turvo ( SC)...................................................1945 – 1953
Ensino Médio 
São Paulo e São José dos Campos ....................................1953 – 1954
Filosofia
São Paulo e São José dos Campos ....................................1954 – 1958
Teologia
Marianum – Roma/Itália ...................................................1958 -  1961
1- Atividades exercidas antes do episcopado
Diretor do Seminário Menor e Prior da Comunidade , Turvo – SC ( 1963 – 1970 )
Prior Provincial da Ordem dos Servos de Maria , São Paulo ( 1970 – 1972 )
2- Atividades exercidas durante o episcopado
Membro da comissão Episcopal de Pastoral da CNBB ( 1975 – 1978 ) ; Presidente da CPT (durante 8 anos ) ; Presidente do Regional Norte 1 ( 2 períodos ) ; Membro do Conselho permanente da CNBB ; Membro da Comissão Episcopal de Doutrina da CNBB ( 1995 – 2003 ).
À frente da arquidiocese de Porto Velho desde novembro de 1998, Dom Moacyr Grechi é formado em Filosofia e em Teologia. Como bispo, foi membro da Comissão Episcopal de Pastoral da CNBB, de 1975 a 1978; presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), por oito anos, e presidente do Regional Norte 1 da CNBB por dois períodos. É membro do Conselho Permanente da CNBB, foi membro da Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé, de 1995 a 2003 e delegado da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, em 2007.

Fonte: ORB

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